Curativos aplicados em feridas abertas podem conter substâncias químicas tóxicas conhecidas como PFAS (polifluoroalquil e perfluoroalquil). Uma investigação realizada pela Mamavation, em parceria com o Environmental Health News, testou várias marcas de curativos e encontrou indícios de PFAS em mais da metade das amostras analisadas.
Esses produtos químicos, frequentemente chamados de "produtos químicos eternos", são compostos sintéticos que não se decompõem facilmente no ambiente ou no corpo humano, acumulando-se ao longo do tempo. Eles são usados para tornar superfícies escorregadias e são encontrados em uma variedade de produtos, incluindo panelas antiaderentes, tecidos resistentes a manchas, roupas repelentes à água, cosméticos e embalagens de alimentos. Agora, parece que até mesmo os curativos podem estar contaminados.
Os PFAS são notórios por seus efeitos negativos à saúde, incluindo riscos aumentados de câncer, problemas hormonais e outros distúrbios graves. Portanto, é essencial estar atento ao uso de produtos que possam conter essas substâncias, incluindo algo tão comum e aparentemente inofensivo quanto um curativo.
Atenção aos Curativos: Eles Podem Conter PFAS
Recentes análises revelaram um problema alarmante em curativos comuns. A pesquisa, que envolveu testes de 40 curativos de 18 marcas diferentes, encontrou indícios de PFAS em 65% dos produtos testados. Estes curativos foram comprados em lojas como Walmart, CVS, Rite Aid, Target e Amazon.
Eles são utilizados em diversos produtos para conferir propriedades de resistência a água, óleo e manchas. No estudo, foi encontrado flúor orgânico. Um marcador para PFAS: acima de 10 partes por milhão (ppm) em 26 das 40 amostras, com concentrações variando de 11 ppm a 328 ppm.
Segundo Terrence Collins, professor de química da Universidade Carnegie Mellon, até níveis baixos de PFAS podem ser perigosos. "Não existe uma dose segura para a desregulação endócrina", afirmou Collins, alertando que esses compostos podem penetrar no corpo através da almofada do curativo em contato com feridas abertas ou pelas abas adesivas.
Linda Birnbaum, cientista emérita e ex-diretora do Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental, expressou preocupação sobre a exposição de crianças e adultos aos PFAS através de curativos. Ela enfatizou que os PFAS não são necessários para a função dos curativos e pediu à indústria que elimine essas substâncias de seus produtos.
Marcas Atingidas Segundo a Análise
Entre as marcas analisadas, Band-Aid, Care Science, Curad e CVS Health tiveram alguns dos níveis mais altos de PFAS. A presença desses compostos variou significativamente, mesmo entre diferentes produtos da mesma marca.
Surpreendentes Fontes de PFAS: Mais do que Apenas Curativos
Além dos curativos, muitas outras fontes comuns de exposição aos PFAS podem ser encontradas no dia a dia. Testes realizados pela Mamavation mostraram que esses produtos químicos persistentes estão presentes em uma variedade surpreendente de itens de consumo. Aqui estão alguns exemplos:
Lentes de contato | Sutiãs esportivos | Macarrão e molho de tomate |
Fio dental | Eletrólitos | Absorvente interno |
Fraldas | Papéis de manteiga | Embalagem de fast food |
Desodorantes | Preservativos | Calcinha absorvente |
Filtros de café | Papel manteiga | Assentos de carro infantis |
Capas de chuva | Capas de chuva | Roupas infantis |
Papel higiênico | Roupas esportivas | Utensílios de cozinha |
A presença de PFAS em lentes de contato é particularmente preocupante. Em um estudo com 18 marcas de lentes, todas apresentaram flúor, com algumas atingindo níveis extremamente altos. Por exemplo:
Alcon Air Optix Colors com tecnologia Smartshield: 20.700 ppm
Alcon Total30 para uso diário: 20.400 ppm
Alcon Air Optix (sem Hydraglide) para astigmatismo: 20.000 ppm
Eles estão associados a diversos problemas de saúde, incluindo disfunções endócrinas, problemas de desenvolvimento, e até alguns tipos de câncer.
Os PFAS, ou substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil, são conhecidos por seus efeitos pró-oxidantes no corpo humano. Eles são capazes de causar danos significativos ao DNA, peroxidação lipídica, geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) e inibição de enzimas antioxidantes. Esses processos levam a uma série de problemas de saúde, incluindo a ativação de cascatas de sinalização celular como a apoptose, que é a morte programada das células.
Soldados expostos aos PFAS em bases militares têm sofrido de diversas doenças oculares. Entre as condições relatadas estão:
Miopia (dificuldade para enxergar de longe)
Hipermetropia (dificuldade para enxergar de perto)
Astigmatismo (visão distorcida)
Presbiopia (perda da capacidade de foco em objetos próximos, comum com o envelhecimento)
A exposição aos PFAS é preocupante devido à sua capacidade de causar danos celulares e interferir no funcionamento normal do organismo. Esses compostos persistentes no meio ambiente e no corpo humano contribuem para um acúmulo tóxico que pode desencadear sérios problemas de saúde ao longo do tempo.
Perigos dos PFAS na Contaminação Alimentar
Eles fazem parte de uma classe de mais de 12.000 produtos químicos, são conhecidos por sua ligação carbono-flúor extremamente forte, o que os torna altamente persistentes no ambiente. Esses compostos não se decompõem facilmente, acumulando-se em solos, cursos de água e oceanos ao longo do tempo. Essa resistência à degradação é também a fonte de seu perigo.
Estima-se que 97% dos americanos tenham PFAS em seus corpos, com meias-vidas de 2 a 5 anos, indicando que esses compostos permanecem no corpo por longos períodos. A FDA está testando alimentos para entender a extensão da contaminação dos PFAS no abastecimento alimentar.
A Alliance for Natural Health USA (ANH-USA) analisou amostras de couve de quatro estados – Nova York, Geórgia, Pensilvânia e Arizona. As amostras incluíram couve orgânica e convencional, compradas em lojas. Das oito amostras, apenas uma não continha PFAS detectáveis. A couve convencional da Geórgia apresentou o nível mais alto de contaminação, mas surpreendentemente, a couve orgânica apresentou níveis mais altos de PFAS do que as convencionais em alguns casos.
A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) estabelece uma ingestão semanal tolerável de 4,4 ng/kg de peso corporal para os PFAS. Consumir apenas duas porções de 67 g de couve com níveis semelhantes aos encontrados na amostra da Geórgia pode representar um risco à saúde.
Os PFAS foram encontrados em diversos outros alimentos, como manteiga de amendoim, molho para macarrão e óleo de cozinha. Um estudo revelou que folhas verdes cultivadas perto de uma planta de PFAS e até bolos de chocolate estavam contaminados.
A contaminação alimentar ocorre devido a práticas agrícolas que utilizam
biossólidos – lama tóxica de resíduos humanos, potencialmente contaminada com PFAS, usada como fertilizante. Além disso, o abastecimento de água pode estar contaminado, tornando perigosa a ingestão de peixes de água doce.
Riscos dos PFAS para a Saúde
Os produtos químicos PFAS, conhecidos por sua persistência no ambiente, têm efeitos profundos e potencialmente graves na saúde humana. Eles podem alterar a epigenética, causar imunossupressão e promover inflamação crônica, contribuindo para o desenvolvimento e progressão de vários tipos de câncer. Esses compostos podem atuar de maneira direta ou indireta, amplificando a tumorigenicidade por meio de múltiplos mecanismos.
A exposição a altos níveis de PFAS compromete o sistema imunológico, tornando o organismo mais vulnerável a infecções e reduzindo a eficácia das vacinas. Além disso, os PFAS estão associados a uma série de efeitos adversos na saúde reprodutiva e no desenvolvimento infantil. Em mulheres grávidas, podem causar aumento da pressão arterial e redução da fertilidade. Para crianças, a exposição pode resultar em baixo peso ao nascer, puberdade precoce e alterações comportamentais.
Os PFAS também estão ligados a um aumento do risco de cânceres específicos, como os de próstata, rim e testículo. Além disso, podem interferir com os hormônios naturais do corpo, elevar os níveis de colesterol e contribuir para a obesidade.
Como Reduzir a Exposição aos PFAS?
Os PFAS, substâncias químicas que não têm cheiro nem sabor, podem ser difíceis de detectar em produtos cotidianos. Para minimizar a exposição a esses compostos prejudiciais, considere as seguintes recomendações:
Filtre a Água: Use filtros de água que removem PFAS para reduzir a contaminação da água potável.
Evite Produtos Tratados: Não compre móveis ou tapetes pré-tratados com repelentes de manchas. Escolha itens sem tratamentos adicionais.
Cuidado com Roupas e Tecidos: Evite roupas e tecidos repelentes de água e manchas, que frequentemente contêm PFAS. Prefira roupas feitas de fibras naturais.
Escolha Materiais Não Tratados: Opte por móveis e colchões que não tenham sido tratados com retardadores de chama. Use alternativas como couro, lã e algodão.
Cuidado com Embalagens: Reduza o consumo de fast food e comida para viagem, pois as embalagens podem estar tratadas com PFAS. Evite também pipoca de micro-ondas devido ao revestimento interno contaminado; faça pipoca no fogão em vez disso.
Utensílios de Cozinha: Evite panelas antiaderentes e outros utensílios de cozinha tratados com PFAS.
Cuidados Pessoais: Não utilize fio dental e produtos de higiene pessoal que contenham PTFE ou ingredientes com prefixos "fluoro" ou "perfluoro".
Seguir essas orientações pode ajudar a proteger sua saúde e reduzir a exposição a produtos químicos nocivos.
Referências
TIME, April 5, 2024 - Evidence of Dangerous "Forever Chemicals"
Found in Bandages
Mamavation, April 2, 2024 - "Band-Aids" & Bandages with Indications of PFAS "Forever Chemicals" Report
NIH, Nat. Inst. of Environmental Health Sciences, PFAS - Perfluoroalkyl and Polyfluoroalkyl Substances (PFAS)
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